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Jardim de Inverno encerra temporada no Teatro Raul Cortez dia 17/11

Last Updated on 13/11/2019′ by Flavia Miranda

Jardim de Inverno

Jardim de Inverno – Público tem até o dia 17 de novembro para conferir a adaptação mundial para os palcos do romance Revolutionary Road, do escritor americano Richard Yates (1926-1992), conhecido por retratar em suas obras a “Era da Ansiedade”. A adaptação de Fabrício Pietro, Jardim de Inverno segue em cartaz no Teatro Raul Cortez, com sessões sextas às 21h30, sábados às 21h e domingos às 20h. Dia 14 de novembro, quinta-feira, às 21h30, haverá uma sessão extra com ingressos populares a R$20.

Com direção de Marco Antônio Pâmio, a montagem traz no elenco Andréia Horta, Fabrício Pietro, Aline Jones, Erica Montanheiro, Iuri Saraiva, Luciano Schwab, Martha Meola, Ricardo Ripa, Julia Azzam e Lucas Amorim. A direção de produção é de Danielle Cabral (DCARTE).

Jardim de Inverno encerra temporada  no Teatro Raul Cortez dia 17/11
Jardim de Inverno encerra temporada no Teatro Raul Cortez dia 17/11

A peça se passa em uma época pré-feminista e levanta questões como a liberdade, os padrões de vida impostos pela sociedade e a sensação de sufocamento na vida familiar. A obra foi adaptada para o cinema (em português com o título Foi Apenas Um Sonho), protagonizada por Leonardo DiCaprio e Kate Winslet. 

A trama retrata a vida cotidiana de April Wheeler (Andréia Horta, protagonista da cinebiografia de Elis Regina) e seu marido Frank (Fabrício Pietro), um casal de classe média aparentemente feliz, que mora com seus dois filhos em um idílico subúrbio de uma pequena cidade nos Estados Unidos, na década de 1950. A história revela momentos intensos da vida cotidiana deste casal que ao cumprir as convenções sociais impostas sufocam seus mais profundos anseios, envenenando sonhos e aspirações.  O espetáculo nos apresenta a progressiva frustração que acomete os dois, conforme assistem a suas vidas passar como um acúmulo de instantes sem sentido. 

Jardim de Inverno encerra temporada no Teatro Raul Cortez dia 17/11

“A obra, mesmo tendo sido escrita no início da década de 60 e contando a história de uma família americana suburbana dos anos 50, carrega em seu cerne uma atemporalidade de proporções gigantescas, pois ela fundamentalmente nos fala de como nossos projetos de realização pessoal podem ser sufocados em nome da estabilidade social e financeira. Esse assunto não diz respeito a uma época específica, e sim à problemática humana mais profunda, independente de tempo ou lugar”, diz o diretor Marco Antônio Pâmio.

Nessa época pré-feminista, April é uma dona de casa que tem o sonho de ser atriz frustrado.  Ela elabora um plano romântico para se mudar com a família para Paris, onde será possível reavivar seu relacionamento com o marido, cumprindo seu profundo desejo de liberdade e dando a ele a chance de se “encontrar”. 

Sobre sua personagem, Andréia Horta comenta: “Sinto a alegria de ter vivido até agora muitos personagens, com alguns tenho semelhanças com outros não. Sempre tentamos encontrar pontos de contato, mas nem sempre acontece, o que é bom também, porque, a partir do desconhecido, começa a criação. Para April, tenho me conectado com tantas histórias de mulheres que viveram oprimidas, sufocadas pela idealização da família e do papel que acreditaram que nós mulheres deveríamos ocupar como se tivéssemos que representar o papel que nos foi dado sem que pudéssemos escolher outro destino”.

Jardim de Inverno encerra temporada  no Teatro Raul Cortez dia 17/11

Já Frank tem um emprego relativamente bem remunerado, mas muito tedioso, e espera conseguir em breve uma promoção. Inicialmente, ele fica entusiasmado com a ideia da esposa, mas, aos poucos, passa a sabotá-la, alarmado com a possibilidade de mudança, pois acredita que precisa encontrar a felicidade em sua vida concreta. 

Para construir sua personagem, Fabrício Pietro inspira-se nos modelos de família tradicional ao seu redor. “Fui criado em uma sociedade na qual a figura masculina tem obrigação de ser forte, provedora, maliciosa, chefe da casa, e bem-sucedida. Ainda que eu tenha consciência destas questões e lute contra elas, sei que estão plantadas no meu DNA social”, acrescenta.

O casal não sabe se abre mão de seus verdadeiros desejos ou enfrenta o peso do conformismo. Eles descarregam suas frustrações um no outro e raramente compreendem o ponto de vista do parceiro, refletindo a desilusão do sonho americano, o “american way of life”. Mas, diante dos olhares de seus vizinhos, eles representam os pilares de tudo o que há de bom; são pessoas charmosas, contagiantes, exemplares e especiais, o que afirma a maneira como se vêem. 

Essa dicotomia entre a realidade (para o casal) e a ficção (para os vizinhos) faz com que a história seja um inquietante retrato da busca desesperada por uma única chance na vida de se fazer o que se quer para que tudo valha a pena. “A própria dramaturgia nos conduz a isso, uma vez que enxergamos o casal na sua intimidade e no convívio com os outros personagens que os cercam no mundo exterior. Nosso elemento inspirador é o próprio teatro, na medida em que essa vida levada pelos dois é, de certa maneira, representada para os outros. Todos representam papéis sociais, mas o que eles vivem entre quatro paredes se distancia bastante do que deixam transparecer para o mundo. E, tanto quanto no teatro, esses papéis precisam ser extremamente bem representados”, explica Pâmio.

Tal como uma tragédia grega, a obra gira ao redor das falhas morais de suas personagens centrais ao discutir temas como a liberdade, o quanto as pessoas são capazes de se autossabotar para caber nas expectativas sociais, a distância entre a felicidade idealizada e a vida concreta, a busca por uma vida autêntica, os modelos irreais de felicidade impostos pela sociedade, como o homem lida com o sucesso da mulher, seu desejo de autoafirmação e o medo diante de certezas questionadas.

Questões femininas

Publicado em 1961, o primeiro romance de Yates foi finalista do National Book Award em 1962, vendeu milhares de cópias, foi amplamente traduzido e publicado em outros países e, em 2005, foi eleito pela revista TIME como um dos 100 maiores livros da literatura em inglês. A obra ficou ainda mais conhecida graças à adaptação cinematográfica dirigida por Sam Mendes em 2008, com o título Foi Apenas um Sonho, estrelada por Leonardo DiCaprio e Kate Winslet. 

“Quando assisti ao filme em 2009, senti o mesmo vazio desesperador e vontade de resgatar uma certa ‘sensação de vida’ que April, a protagonista, sentiu. Eu vinha de uma fase na qual conforto e estabilidade eram meus objetivos de vida. Com o passar dos anos, meus desejos mais genuínos foram minados pelo comodismo e algo importante se perdeu: minha coragem e autenticidade. O filme me fez enxergar isto. Adquiri a obra original, um romance, e me debrucei sobre ele inúmeras vezes. Então decidi escrever a versão teatral. Minha adaptação foca na reflexão sobre o sufocamento dos desejos, a massificação dos valores, o desperdício dos potenciais individuais em virtude de um único modelo de família próspera e feliz estabelecido por interesses econômicos. Mas em si, a história carrega questões femininas urgentes, expostas muito claramente pela protagonista e que lamentavelmente 60 anos depois (o romance foi escrito em 1961) seguem devastando as mulheres”, revela Pietro sobre a idealização e adaptação da peça.

Sobre a encenação, por Marco Antônio Pâmio

“Sou cria assumida e declarada de Antunes Filho, meu grande mestre e responsável por tudo o que hoje sei do ofício, tanto em termos técnicos quanto ideológicos e éticos. Ele sempre foi e será minha primeira e principal referência. Neste ano em que ele nos deixou, seus ensinamentos reverberam de maneira ainda mais forte dentro de mim. Inevitável que ele seja minha referência maior neste trabalho. 

Como a peça é adaptada de um texto literário, é fundamental a presença do recurso narrativo em sua dramaturgia. Mas, ao contrário da presença onisciente de um narrador descolado da ação como mero observador, optamos por tornar cada uma das personagens também narradores em momentos específicos, fazendo com que todos, além de viver a história, também a contem sob sua perspectiva particular. Procuro construir esses ‘depoimentos’ de maneiras diversas e inusitadas, de modo a construir um caleidoscópio de experiências pessoais compartilhadas daqueles que vivenciaram aqueles episódios.

A cenografia não tem compromisso com o realismo, mas sim com a objetividade da narrativa, ou seja, está sempre a serviço dela e não o contrário. Dessa maneira, elementos pontuais e sintéticos recriam os dois ambientes principais da história – a sala de estar da casa dos Wheeler e o escritório da empresa Knox, onde Frank Wheeler trabalha. Esses mesmos elementos se revezam de acordo com sua função específica, quase que trocando de papéis, de maneira acentuada e propositalmente coreográfica. Nesse aspecto entra o trabalho de direção de movimento da peça, extremamente importante para a condução da narrativa e a ligação entre as cenas. 

Os figurinos são, talvez, o elemento mais realista desses quatro quesitos, na medida que obedecerão à risca o estilo da época, no caso os anos 50. Seria impensável transpor o contexto histórico para outra época que não o ano de 1955 original, sob o risco de perdermos a perspectiva do papel da mulher na sociedade e quanto a personagem April se encontra à frente de seu tempo. Quanto à trilha sonora, ela já não terá tanto esse compromisso. Uma combinação de canções e, mais intensamente, temas minimalistas, comporão a atmosfera sonora de crescente dramático que o texto pede. A iluminação seguirá essa mesma linha, em que a atmosfera dramática irá sempre se sobrepor à mera definição de espaços específicos”.

Sobre Richard Yates – autor

Escritor norte-americano nascido em Yonkers, no estado de Nova Iorque, em 1926. Yates figura entres os melhores escritores de língua inglesa no século 20. A fama de suas obras tem crescido consideravelmente desde a sua morte e principalmente após a primeira década do século 21. Sua obra é identificada com a “Era da Ansiedade”, uma vez que suas personagens são tomadas pelas decepções, aflições e pesares da vida do pós-guerra. Há elementos de suas personagens do pós-guerra voltam a refletir transtornos dos indivíduos contemporâneos.

Revolutionary Road foi bem recebido pela crítica. Kurt Vonnegut descreveu-o como O Grande Gatsby do seu tempo. Nomes como Richard Ford e Julian Barnes têm-no como uma das suas principais referências. Teve, no geral, boas críticas, foi finalista do National Book Award em 1962, vendeu muitas cópias e foi amplamente traduzido e publicado em outros países. E, no entanto, desapareceu gradualmente das livrarias e do pensamento dos leitores.

Após a morte de Yates em 1992, Revolutionary Road foi relativamente esquecido, como tantos outros grandes livros do passado.  Isto até que, em 2008, Sam Mendes adaptou o livro para o cinema em um filme com Leonardo DiCaprio e Kate Winslet nos papéis principais. Elogiada pelo público e pela crítica especializada, a adaptação reavivou o interesse no romance de Yates, que retornou às livrarias, dando aos leitores a oportunidade de se reconhecer nas frustrações de Frank e April Wheeler. 

Sobre Marco Antônio Pâmio – diretor

Marco Antônio Pâmio é ator e diretor teatral. Estudou no Centro de Pesquisa Teatral (CPT) e no Drama Studio London, Inglaterra. Participou de telenovelas e minisséries, entre elas Mandala e JK (Globo), Sangue do Meu Sangue (SBT), Água na Boca (Band), O Negócio (HBO) e Sessão de Terapia (GNT).

Dentre as peças que dirigiu destacam-se: Playground, Assim É (Se Lhe Parece), Propriedades Condenadas, Consertando Frank e Noites Sem Fim. Recentemente dirigiu Baixa Terapia protagonizada por Antônio Fagundes no Teatro Tuca e A Profissão da Sra. Warren com Clara Carvalho no Teatro do Masp.

Venceu três vezes o Prêmio da APCA como melhor direção em 2016 Playground, melhor direção em por 2014 por Assim É (Se Lhe Parece), e como ator-revelação em 1984, por Romeu e Julieta. Foi indicado três vezez ao Prêmio Shell.

SINOPSE 

O espetáculo é adaptado do romance “Revolutionary Road”, que originou o filme Foi Apenas Um Sonho. April e Frank são jovens, bonitos e com seus dois filhos formam a família perfeita do idílico subúrbio americano dos anos 50. Mas, na verdade, se sentem reprimidos e aprisionados nessa realidade. Então April propõe um plano que irá colocar à prova seus limites.

Ficha técnica:

Título Original: Revolutionary Road, Romance De Richard Yates. Dramaturgia e tradução: Fabrício Pietro. Colaboração dramatúrgica: Erica Montanheiro e Marco Antônio Pâmio. Direção: Marco Antônio Pâmio. Elenco: Andréia Horta, Fabrício Pietro, Erica Montanheiro, Iuri Saraiva, Martha Meola, Ricardo Ripa, Luciano Schwab, Aline Jones, Julia Azzam e Lucas Amorim. Direção de Produção: Danielle Cabral. Direção de movimento: Marco Aurélio Nunes. Assistente de Direção: André Kirmayr. Cenografia: Marisa Rebolo. Figurinista: Flaviana Bernardo Iluminador: Wagner Antônio. Trilha Sonora: Marco Antônio Pâmio. Visagismo: Louise Helène. Cabelo divulgação: Rô Pinheiro . Make divulgação: Rodrigo Nunes. Fotos divulgação: Danilo Borges. Finalização de fotos: Jujuba Digital Artes: Marketing DCARTE. Vídeos divulgação: Kroon Company Produções Promoção: Rede Globo. Vídeo Promocional: Johnny Luz. Assessoria de Imprensa: Adriana Balsanelli e Renato Fernandes. Produtoras associadas:  Pietro Arte e Comunicação e Lolita e La Grange Produções. Administração Projeto PROAC ICMS: Amanda Leones – Versa Cultural. Assessoria contábil e jurídica: Juliana Rampinelli Calero. Produtoras de operações: Jessica Rodrigues e Victória Martinez  – Contorno Produções. Coordenação de produção: Fabrício Pietro e Mateus Monteiro. Negociação de direitos autorais: Marcel Nadal Michelman e Evandro Ragonha. Idealização: Fabrício Pietro. Produção Geral: DCARTE. Patrocínio: PAPIRUS. 

Serviço:

JARDIM DE INVERNO – Estreou dia 11 de outubro no TEATRO RAUL CORTEZ.

Duração: 100 minutos. Classificação: 14 anos. Ingressos: R$ 50 (inteira); R$25 (meia-entrada).

Sexta 21h30, sábado 21h e domingo 20h.

Importante:

Dias 8 e 15 de novembro sessão com preços populares R$20.

Dia 14 de novembro sessão extra às 21h30 com preços populares R$20.

Dia 15 de novembro sessão acessível em libras.

Dia 17 de novembro debate com elenco após a sessão.

TEATRO RAUL CORTEZ – Rua Dr. Plínio Barreto, 285 – Bela Vista, São Paulo.

Bilheteria: Deterça a quinta, das 15h às 19h; e de sexta a domingo, das 15h até o início do espetáculo (Não abre aos feriados). Vendas online: https://www.sympla.com.br/

Capacidade: 520 lugares. Informações: (11) 3254-1633. 

E-mail: teatro.raulcortez@fecomercio.com.br

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